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terça-feira, 16 de março de 2010

Estetica

Introdução

O presente trabalho versa no seu todo sobre o belo natural e o belo artístico, sua distinção e as diferentes formas de abordagem do problema do belo natural e artístico em diferentes épocas. O trabalho possui três capítulos que de forma escalonada procuram esclarecer o tema em estudo, começando pela história da estética..

O objectivo deste trabalho é fornecer ao leitor conhecimentos acrescidos sobre a estética no que diz respeito ao belo natural e artístico e, contribuir para futuras pesquisas.

No acto de elaboração teve-se em conta o método de pesquisa bibliográfica e por fim a recolha, leitura crítica e consolidação do material recolhido.

 

1. História da Estética.

 O belo e a beleza têm sido objecto de estudo ao longo de toda a história da filosofia. A beleza está etimologicamente relacionada com "brilhar", "aparecer", "olhar". Na antiga Grécia a reflexão estética estava centrada sobre as manifestações do belo natural e o belo artístico. Para Pitágoras o belo consiste na combinação harmoniosa de elementos variados e discordantes. Platão afirma que a beleza de algo, não passa de uma cópia da verdadeira beleza que não pertence a este mundo. Aristóteles defende que o belo é uma criação humana, e resulta de um perfeito equilíbrio de uma série de elementos. Na Idade Média identifica-se a beleza com Deus, sendo as coisas belas feitas à sua imagem e por sua inspiração. Entre os século XVI e XVIII predomina uma estética de inspiração aristotélica: a beleza é associada à perfeição conseguida por uma sábia aplicação das regras da criação artística. As academias a partir do século XVII, garantirão a correcta aplicação dos cânones artísticos. Kant atribuirá ao sentimento estético as qualidades de desinteresse e de universalidade. Foi o primeiro a definir o conceito de belo e do sentimento que ele provoca. Hegel verá no belo uma encarnação da Ideia, expressa não num conceito, mas numa forma sensível, adequada a esta criação do espírito. 

2. O belo

Conceito         

“...o belo é a perfeição que pode atingir ou atinge um objecto visto, ouvido ou imaginado(HEGEL, 1993:33)

Para Platão, o belo é o bem, a verdade, a perfeição; existe em si mesma, apartada do mundo sensível, residindo, portanto, no mundo das ideias. A ideia suprema da beleza pode determinar o que seja mais ou menos belo. Em O banquete, Platão define o amor como a junção de duas partes que se completam, constituindo um ser andrógino que, em seu caminhar giratório, perpetua a existência humana. Esse ser, que só existe no mundo das ideias platónico, confere à sua natureza e forma uma espécie peculiar de beleza: a beleza da completude, do todo indissociável, e não uma beleza que simplesmente imita a natureza. Assim, temos em Platão, uma concepção de belo que se afasta da interferência e da participação do juízo humano, ou seja, o homem tem uma actuação passiva no que concerne ao conceito de belo: não está sob sua responsabilidade o julgamento do que é ou não é belo.

1.1. O belo natural

Segundo Hegel o belo natural é a primeira expressão do belo.

A forma do belo natural enquanto abstracta é por um lado uma forma determinada e, portanto, delimitada e implica por outro lado uma unidade graças à qual ela se referencia a si mesma. A beleza só existe para o intelecto abstracto que apenas concebe a identidade e a igualdade abstractas e não concretas. O belo natural é um belo imperfeito.

O elemento exterior e a conformação que recebe, ligam-se àquilo que designamos termos geral de natureza. Diz-se que a obra de arte  deve ser natural, mas há também um natureza vulgar feia, que se não reproduzir tal qual e, por outro lado.

1.2. Belo artístico

1.2.1. O belo pré-artístico

 Antes que surgisse a arte, o belo já existia. Muito antes de aparecer o homem sobre a face da terra para produzir a arte, já resplandecia o belo na luz dos astros, no colorido das auroras, no azul da abóbada celeste, nas noites estreladas, nas nuvens vagando no espaço, nas montanhas sinuosas, nas florestas verdejantes, nas flores coloridas, no zumbido dos insectos e canto dos pássaros, nos brutos das campinas, no rolar das ondas do mar. Imenso sempre foi o número das coisas belas, antes que a primeira obra de arte surgisse.

Mesmo na arte, o som já pode ser belo, harmonioso, agradável antes de se transformar em música expressiva. Por isso, há na música muito do belo pré-artístico, antes da expressão musical propriamente dita.

O mesmo pode acontecer com os materiais da arquitectura e da escultura, sempre capazes de serem belos em si mesmos, independentemente da expressão que passam a assumir. Sobretudo as cores são belas, mesmo quando nada expressam.

A arte literária, sobretudo a poesia, também explora o belo da cadência dos sons e das rimas.

Portanto, por toda a parte reina o belo nas coisas, mesmo antes que a arte as transforme em novas maravilhas.

O belo como tema preferido da arte. Cresceu o belo da natureza ao surgir a arte. É a arte um esforço de expressão, em que umas coisas se tornam a representação de outras. E esta representação busca ser perfeita, ao mesmo tempo que prefere os temas perfeitos, isto é belos. É por si mesmo evidente, que a expressão artística busque ser perfeita e que prefira expressar o temas perfeitos, ainda que as circunstâncias à obriguem à universalidade dos temas.

Sem ser ela mesma o belo, foi a arte sempre amiga do belo: tanto ela busca o belo na função do expressar com perfeição, como também o busca nos temas belos.

Por causa desta dupla possibilidade de beleza da arte, acontece que o mais degradante dos temas, ainda que como tema possa não ser o belo, passa contudo a ter uma expressão bela, porque ao menos perfeita como expressão.

Importa ainda conhecer o belo como um dos ideais de construção do homem, seja do homem como belo corpo, seja do homem como bela pessoa.

Neste contexto surge o belo como um dos objectivos gerais da educação. A filosofia da educação, ao tratar dos objectivos gerais da educação, advertirá sobre este aspecto.

Quando se toma alguma beleza em separado, esquecidas as outras, pode eventualmente acontecer que o belo, sobretudo na arte, por vezes conduz ao mau caminho. Então já não se trata da beleza artística por ser artística, e sim do tema que foi mau, e foi introduzido pela palavra, ou pela música, ou pelas artes visuais. Se entretanto abstrairmos do tema, aquela expressão poderá ter sido artisticamente perfeita. Se porém o próprio tema for bom, teremos a aliança do belo temático com o belo artístico. Se dentre os bons temas o próprio tema belo, a aliança havida será de beleza com beleza, isto é, do belo expressar e do tema belo.

A tendência do artista não é apenas o expressar belamente, mas expressar um bom tema. E este poderá ser um tema instrutivo, um tema capaz de divertir, um tema curioso pela sua originalidade, enfim poderá ser um tema belo. Acontecerá então uma selectividade temática, desde os mais úteis até os mais belos. Ainda que o artista se preocupe em funcionalmente expressar-se belamente, o que verdadeiramente lhe importa é o tema.

A arte pela arte é uma situação abstracta. Ninguém fala simplesmente para falar; fala-se para dizer algo de interesse temático. A arte pela arte, como simples virtuosismo funcional do bem expressar, é apenas um momento abstracto, tomado a um todo maior; cuida somente da arte pela arte o apreciador que faz a ciência da arte, a crítica da arte, a história da arte, porquanto cada ciência toma em conta um ponto de vista a parte.

Pode a arte pela arte ser uma preferência de quem a aprecia; mas nunca é toda a arte. Aparentemente o cientista da arte, o seu crítico e historiador parecem conduzidos à indiferença moral; todavia, o estado deles é apenas o da abstracção, porque na verdade simplesmente por definição não lhes cabe directamente cuidar do conteúdo simplesmente em si mesmo; este já pertence a um outro sector, o da filosofia moral da arte.

Conclui-se que, apesar da distinção entre o belo e a arte, é na arte, que ,- ao mesmo tempo que busca ser bela, - muito se valoriza o belo.

Quando se trata do belo e da arte como valiosos à educação, importa primeiramente o conteúdo belo e o conteúdo expresso pela arte; surge então o belo como a perfeição em destaque e a expressão artística como mensagem directa do tema. Não obstante, a expressão enquanto bela expressão também educa, porquanto excita o sentimento estético, em si mesmo apreciável e elevado.
Hegel defende o belo artístico como o único com interesse estético. O belo artístico é um produto do espírito, por isso só o podemos encontrar nos seres humanos e nas obras que eles produzem. Segundo Hegel, a Ideia do bem, da verdade e do belo completam-se, porque, em suma, só há uma Ideia. Tudo o que existe contém a Ideia. A estética ocupa-se em primeiro lugar da Ideia do belo artístico como ideal.

No marxismo, a estética de Hegel também encontrou defensores. Se os fundadores do marxismo apenas dedicaram ao problema do belo breves comentários, autores contemporâneos como Lukács e Brecht  empenharam-se na definição do belo artístico como expressão do homem social, trabalhador e criador. Visando a unidade do verdadeiro, do bom e do belo, a estética marxista-leninista vai mais além da obra de arte na procura do significado do belo.

Toda a obra de arte é um reflexo da consciência social. O belo não é uma realidade absoluta e intocável pelo humano: o belo é o resultado do trabalho humano realizado em comunidade.

A estética hegeliana foi desprezada no século XIX, vencida pelo psicologismo dominante. Em Itália, Francesco de Sanctis preservou a lição de Hegel e o seu sucessor, Benedetto Croce, com a Estética come scienza dell’espressione e linguistica generale (1902), redescobre a visão idealista do belo. Propondo a a abolição das fronteiras entre todas as artes e entre todos os géneros literários, Croce defende todo o acto artístico como expressão, origem do “lirismo”. Conquanto as obras de arte sejam formas de lirismo, serão sempre arte com valor estético.

2. Distinção entre o belo natural e artístico

Para Hegel existe uma diferenciação fundamental entre o belo artístico e o belo natural. O belo da arte está directamente relacionado com a pureza do espírito enquanto que o belo natural encontra-se directamente submisso a realidade da natureza.

Nesta perspectiva o "belo artístico exclui o belo natural" uma vez que para o espírito é preciso desenvolver as suas potencialidades, enquanto que a natureza já possui todas as condições determinadas e suas leis são duras.

Assim, Hegel contraria a opinião corrente que considera "a beleza criada pela arte seria inferior a da natureza" sendo portanto contrario também a proximidade da beleza artística em relação a natureza, imitar não é a maior virtude de beleza artística.

Deste modo, "julgamos nós poder afirmar que o belo artístico é superior ao belo natural por ser um produto do espírito, que superior á natureza comunica esta superioridade aos seus produtos, e, por conseguinte, à arte" sendo superior ao belo natural o belo artístico.

Desta maneira a criação mais bela emanado espírito porque é nele que as coisas são puros objectos, realidade perfeitas e potencialmente organizadas sem condicionamento prévio ou limitação de beleza.

 Para Kant, Há duas espécies de beleza: a beleza livre (pulchritudo vaga) e a beleza simplesmente aderente (pulchritudo adhaerens). A primeira não pressupõe nenhum conceito do que o objeto deva ser; a segunda pressupõe um tal conceito e a perfeição do objeto segundo o mesmo. (…) Flores são belezas naturais livres. (…) No entanto, a beleza de um ser humano (…) pressupõe um conceito do fim que determina o que a coisa deve ser, por conseguinte um conceito da sua perfeição, e é portanto beleza simplesmente aderente." (I, 16).

Os comentadores posteriores do belo parecem concordar com a existência de duas espécies de belo. Hegel começa a sua Estética distinguindo desde logo o belo artístico do belo natural. Este segundo tipo de belo (que equivale ao "belo livre" de Kant) fica de fora da estética que se deve ocupar apenas do belo criado pela arte.

É a única forma de trazermos o conceito do belo para a teoria literária: o belo do texto literário é, invariavelmente, um belo artístico, conquanto a literatura seja uma obra de arte. Nenhum texto literário pode ter uma beleza como a do Sol, que é absoluta e não é um produto do génio.

 Conclusão

A questão do belo natural e artístico é até nos nossos dias discutido por vários pensadores, procurando dar respostas à questões levantadas na antiguidade por muitos pensador como Platão. O trabalho termina com a distinção entre o belo natural e o belo artístico como forma a ilustrar não só a distinção mas procura implicitamente ilustrar a sua relação intrínseca.

Espera-se que o trabalho abra caminhos para efectivação de novas pesquisas científicas em torno do tema em estudo.

 Bibliografia

·         Esthétique, lições feitas de 1818 a 1829; trad. S. Jankélévitch, 1944, t. I, p. 7. A razão dessa exclusão, que não nos interessa directamente aqui, é que “o belo artístico é superior ao belo natural, porque é um produto do espírito” (Ibid., p. 8).

  • HEGEL, G. W. Friedrich, Estética, tradução de Álvaro Ribeiro e Orlando Vitorivno, Guimarães Editores, Lisboa, 1993
  • SCHILLER, Friedrich, Textos sobre o Belo, o Sublime e o Trágico (Lisboa, 1998);

 

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